Começou mais uma edição do programa Big Brother. Isso me faz pensar na minha mais famosa frase: “No futuro, todo mundo terá seus 15 minutos de fama”.
Proferi tal sentença em 1977 e não houve um dia sequer, desde então, sem que minha predição não fosse citada. Por isso, já é hora de fazer uma revisão, conferir sua atualidade, pois de lá para cá o mundo mudou um bocado, principalmente em alguns aspectos que incidem direto sobre meu aforismo. Acompanhe-me.
Primeiro fator a se considerar: o aumento da população. Segundo os últimos dados, 6,7 bilhões de pessoas habitam o mundo. Num cálculo simples, para saber quantos minutos seriam necessários para que todos tivessem seu quarto de hora de glória, multiplique 15 minutos pela população do planeta. Resultado: 110,5 bilhões de minutos, ou 1,67 bilhão de horas, ou 69,8 milhões de dias, ou 191,2 mil anos, ou 19,1 mil décadas ou, ainda, 1.912 séculos. Isso considerando-se que ninguém vai nascer amanhã.
Claro que os 15 minutos de fama chegam simultaneamente para muitas pessoas. Temos famosos só para o Vale do Paraíba, outros apenas num bairro de Varsóvia, alguns com relativa fama entre os skatistas de Cristo da cena underground de Bangkok, a menina mais bonita do prédio e assim por diante. Em contrapartida, a fama global é um fenômeno possível para meia dúzia de gatos pingados. Levando-se esses fatores em consideração, dou um desconto e deixo em 1.700 séculos o tempo necessário para que todos recebam a sua cota de adulação popular.
O segundo ponto a ser considerado é a explosão dos meios difusores do sucesso alheio: jornal, jornal de bairro, revista, revista de bairro, TV, TV a cabo, blogs, sites, Orkut, cinema... Bem, eu acho que você sabe do que estou falando. Se por um lado eles facilitam a tarefa de promover os méritos ou a sorte de cada um de nós, por outro eles diminuem o tamanho do fã clube. É muito espetáculo para pouco aplauso.
O terceiro fator – possivelmente o mais decisivo para a revisão da minha previsão – é o minúsculo grupo de pessoas que praticamente monopoliza os minutos necessários para se socializar a fama. Se considerarmos o tempo dedicado à Gisele Bündchen, à Paris Hilton, ao Obama, à Madonna e ao Ronnie Von, a coisa fica complicada. Cancelo o desconto e fico com meus 1.912 séculos.
Portanto, amigo, se você não é rico que pode ser célebre por ser célebre e, se por acaso, no dia do seu aniversário o pessoal se reunir na firma para lhe cantar parabéns, e metade dos seus colegas estiver presente (atendendo ao pedido do RH, vamos lá gente!), ou se você saiu numa fotinho bem pequena, abraçado a mais quatro pessoas, naquela sessão Agenda da Caras (simplesmente porque o fotógrafo não sabia quem você era) ou, ainda, se você apareceu ao fundo de uma reportagem (pode ser até cobertura de crime hediondo) feito papagaio de pirata, aproveite bem esses instantes. Eles são os seus atuais 15 minutos de fama e olhe lá.
quarta-feira, 14 de janeiro de 2009
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